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Descarbonização

Publicado a:
27/05/2025

Escrita:
Catarina Padrão

ODS: Da teoria à estratégia

O Observatório tem vindo a desenvolver um trabalho de articulação com diversos atores estratégicos da economia e da administração pública portuguesa, com o objetivo de promover a adoção dos ODS de forma mais estruturada.

Estivemos à conversa com Filipa Pires de Almeida e Natália Cantarino, da Católica Lisbon School of Business and Economics, para compreender como tem evoluído a integração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas empresas portuguesas. O retrato é animador: apesar dos desafios, há uma mudança estrutural em curso e cada vez mais soluções concretas. Ao centro desta transformação está o Observatório de Sustentabilidade Empresarial, que tem desempenhado um papel essencial ao tornar os ODS mais acessíveis, aplicáveis e estratégicos para o tecido empresarial nacional.


Como é que o Observatório tem observado a evolução da integração dos ODS nas estratégias empresariais em Portugal, especialmente entre as PMEs, ao longo dos últimos anos?

Desde o lançamento do primeiro Relatório Anual do Observatório, em outubro de 2022, temos vindo a acompanhar uma evolução positiva na integração dos ODS pelas empresas portuguesas — tanto grandes empresas como PMEs. Entre as grandes empresas, registámos um aumento significativo na incorporação dos ODS nas estratégias empresariais, passando de 67,2% no segundo ano para 82,8% no terceiro. Também é cada vez mais evidente a tendência destas empresas alinharem explicitamente a sua estratégia com os ODS, com um crescimento de 26,2% para 34,5%.

No caso das PMEs, o progresso é igualmente encorajador. Verificou-se um aumento na integração dos ODS nas suas estratégias, de 30,6% para 40,1% entre os anos 2 e 3. Destaca-se ainda a subida de empresas que já definem a sua estratégia em função dos ODS — de apenas 1,9% para 6,8%.

Adicionalmente, tanto nas grandes empresas como nas PMEs, aumentou a perceção dos ODS como uma oportunidade de negócio: de 78,7% para 87,9% nas grandes empresas, e de 63,9% para 66,7% nas PMEs. Este é um sinal claro de que o tema começa a ser visto não apenas como uma exigência externa, mas como uma alavanca estratégica.

Quais são os principais desafios que as empresas enfrentam na implementação dos ODS, e que boas práticas têm sido identificadas para superar esses obstáculos?

Nas PMEs, os principais desafios prendem-se sobretudo com a falta de conhecimento sobre os ODS e sobre como os operacionalizar no contexto do seu negócio. A escassez de recursos financeiros e humanos também representa uma barreira significativa à implementação efetiva da Agenda 2030.

Já nas grandes empresas, o principal obstáculo prende-se com a dificuldade em traduzir o framework dos ODS para a linguagem e práticas do mundo empresarial. Muitas destas empresas sentem-se mais confortáveis a trabalhar com o enquadramento ESG. Além disso, o aumento da carga legislativa em matéria de sustentabilidade tem levado muitas empresas a focar-se prioritariamente nas obrigações regulatórias, colocando os ODS num plano mais secundário. A falta de conhecimento — tanto sobre os próprios ODS como sobre formas de os integrar de forma concreta — continua a ser um desafio, tal como a limitação de recursos.

O Observatório tem procurado dar resposta a estas dificuldades, sobretudo no que toca à capacitação. Temos promovido formações específicas e iniciativas de partilha de conhecimento, com o objetivo de tornar os ODS mais acessíveis e aplicáveis às empresas. Promovemos também eventos que fomentam o diálogo e a partilha de experiências, permitindo às empresas identificar pontos comuns, dificuldades e boas práticas.

Aliás, dedicámos um capítulo inteiro do nosso último Relatório à apresentação de boas práticas — com exemplos concretos que vão desde o alinhamento estratégico com os ODS até a iniciativas que contribuem diretamente para o avanço da Agenda 2030.

De que forma o Observatório colabora com outras entidades, para promover a adoção dos ODS pelas empresas portuguesas?

O Observatório tem vindo a desenvolver um trabalho de articulação com diversos atores estratégicos da economia e da administração pública portuguesa, com o objetivo de promover a adoção dos ODS de forma mais estruturada. Uma das principais formas de colaboração tem sido a realização de entrevistas com especialistas de várias áreas ligadas à sustentabilidade — desde organismos públicos com responsabilidade na coordenação da Agenda 2030, até entidades ligadas ao planeamento estratégico e à promoção da coesão territorial. Estes contributos foram essenciais para compreender o contexto nacional da implementação dos ODS, os desafios regulatórios e institucionais, e o papel das empresas nesse processo.

Complementarmente, entrevistámos também especialistas das maiores consultoras a operar em Portugal, para recolher a sua visão sobre a integração dos ODS no setor privado. Estas entrevistas permitiram perceber como as empresas estão a interpretar e operacionalizar os ODS, e quais as tendências e barreiras que estas consultoras identificam no terreno.

Também desenvolvemos formações sobre o tema da importância estratégica da Sustentabilidade nas práticas empresariais, nomeadamente o Beyond ESG e formações junto de PMEs e entidades parceiras. 

Outro instrumento importante que desenvolvemos em parceria foi uma tabela legislativa que cruza o enquadramento jurídico da sustentabilidade — a nível internacional, europeu e nacional — com os ODS. Esta análise tem sido fundamental para identificar as interligações entre exigências legais e compromissos voluntários, oferecendo às empresas um mapa mais claro de como agir.

Em suma, o trabalho do Observatório assenta numa lógica colaborativa e de criação de conhecimento aplicado, com o objetivo de apoiar a transformação estratégica das empresas portuguesas à luz da Agenda 2030.


Natália Cantarino 

Faz parte da equipa do Center for Responsible Business & Leadership da CATÓLICA-LISBON como Gestora de Operações e Investigadora. É também Gestora do projeto de investigação Observatório dos ODS nas Empresas Portuguesas e Professora Assistente de licenciaturas e mestrados. Tem um Mestrado em Gestão pela CATÓLICA-LISBON com foco nas áreas de Estratégia, Sustentabilidade e Negócios de Impacto. É formada e pós-graduada em Gestão pela Universidade Federal Fluminense, no Brasil. O seu conhecimento abrange diferentes temáticas associadas à Sustentabilidade empresarial, com experiência no desenvolvimento de projetos de estratégia de sustentabilidade e de implementação e reporte dos ODS na estratégia empresarial. 

Filipa Pires de Almeida 

Diretora Executiva do CRB (Center for Responsible Business and Leadership) na CATÓLICA-LISBON, e investiga na área de estratégia e negócios internacionais, nomeadamente como as empresas devem abraçar estratégias sustentáveis para desenvolverem vantagem competitiva, com foco nos ODS e Sustentabilidade. É Professora de formação executiva. licenciaturas e mestrados na Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais e Direiro e está a desenvolver o seu Doutoramento na Rotterdam School of Management em Estratégia e Sustentabilidade focada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como vantagem estratégica para as empresas. Filipa é licenciada em Economia, possui mestrado em Gestão, Estratégia e Empreendedorismo, e completou curso executivo Shared Value na Harvard Business School com os professores Michael Porter e Mark Kramer. Foi formadora e mentora de negócios sociais, tendo sido Community Manager e Business Developer na IES-Social Business School. Desempenhou funções como Conselheira de Política Económica e Monetária no Parlamento Europeu, tendo ainda exercido atividade profissional na Deloitte Consulting.

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