O debate sobre sustentabilidade dá muito destaque às questões ambientais, e nesta emergência acaba por ofuscar outros pilares das políticas ESG como os sociais e de governança. Apesar do compreensível ênfase no tema ambiental, é crucial relembrar que a sustentabilidade é holística, e que inclui a atuação nos pilares do social e da governança.
A descarbonização por parte das empresas tem sido um enorme passo, mas as práticas exemplares num pilar não justificam falhas nos outros. A dimensão social, que inclui a equidade de género, a inclusão, a remuneração, compreende também a saúde mental dos colaboradores.
Saúde mental: dados alarmantes
Com a pandemia e o crescimento do teletrabalho, a preocupação com a saúde mental dos trabalhadores entrou na agenda dos noticiários, mas voltou a perder visibilidade com a nova normalidade. É por isso importante voltar ao tema, até porque os números são alarmantes. Dados da Organização Mundial de Saúde revelam que, por ano, 12 biliões de dias de trabalho são perdidos devido à depressão e à ansiedade e que custam à economia global quase um trilião de dólares.
Segundo a Fundação José Neves, um em cada cinco portugueses tem um problema de saúde mental, portanto olhe à sua volta, se não for você, pode muito bem ser o seu colega do lado ou o da frente.
O burnout tem-se revelado um dos problemas mais comuns nesta esfera, já que as pessoas estão sobrecarregadas e não conseguem desligar-se das questões profissionais. Segundo um estudo da Small Business Prices, Portugal ocupa o primeiro lugar no risco de burnout na União Europeia.
Por outro lado, há um trabalho imenso a ser feito dentro das organizações, muitas vezes tóxicas, que não permitem ao trabalhador crescer, ser tratado com respeito e ser reconhecido.
O estigma da doença mental, temporária ou permanente, também é ainda elevando, levando muitas pessoas a esconder o problema com receio de sofrerem repercussões, ou que essa informação seja usada contra si.
Mas à medida que as organizações reconhecem a influência direta do bem-estar psicológico na produtividade, a promoção da saúde mental ganha destaque como parte integrante das estratégias de gestão de recursos humanos.
Como estas doenças afetam a produtividade?
Os colaboradores que enfrentam desafios relacionados com a sua saúde mental podem experimentar uma redução significativa na produtividade. A ansiedade, o stress, o burnout e a depressão podem prejudicar a concentração, a tomada de decisões e qualidade do trabalho.
Por outro lado, problemas de saúde mental muitas vezes levam a faltas frequentes e a uma maior rotatividade de funcionários. Isso não apenas impacta a continuidade operacional, mas também gera custos adicionais de recrutamento e formação.
Também um ambiente de trabalho que negligencia a saúde mental pode resultar num clima organizacional tóxico. Isso afeta não só os colaboradores diretamente envolvidos, mas também os restantes, criando um ciclo de stress e insatisfação.
O que fazer?
Em primeiro lugar é importante que as empresas criem espaços abertos de conversação sobre a saúde mental o que ajuda a reduzir o estigma associado a questões psicológicas. Campanhas internas de consciencialização e formação sobre saúde mental são essenciais para educar os colaboradores e gestores.
Oferecer programas de assistência ao empregado, que incluam acesso a aconselhamento e recursos psicológicos, demonstra um compromisso da empresa com o bem-estar dos seus colaboradores.
Incentivar práticas que promovam um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal, como horários flexíveis, trabalho remoto, mais dias de férias, e políticas de licença, contribui para reduzir o stress e melhorar a saúde mental.
Criar um ambiente de trabalho físico agradável, com espaços de descanso e áreas verdes se possível, pode contribuir positivamente. Além disso, promover a construção de relacionamentos positivos entre colegas de trabalho fortalece o suporte social.
Capacitar managers para reconhecerem sinais de problemas de saúde mental, oferecerem apoio e encaminharem colaboradores para recursos adequados, sem estigmatização é crucial. Líderes bem treinados desempenham um papel fundamental na promoção de uma cultura de apoio.
Estas são medidas pequenas com grandes repercussões. É nisto que as empresas devem investir. Sem este tipo de apoio, é impossível ter uma cultura de empresa sã e a cumprir com o pilar social das políticas de ESG.
A saúde mental dos colaboradores contribui para o sucesso a longo prazo das empresas. Vamos fazer mais, por este tema? Fica o desafio.