A COP29, marcada para decorrer em Baku, no Azerbaijão, traz consigo grandes expectativas e desafios para a sustentabilidade global. Embora as conferências das partes (COPs) aconteçam há quase três décadas, a relevância de cada evento permanece incontestável, sendo um momento decisivo para consolidar compromissos, promover a partilha de conhecimento científico e definir estratégias concretas que possam impactar a luta contra as alterações climáticas.
Alice Khouri, que marcará presença na COP29, partilha insights valiosos sobre o que podemos esperar em temas críticos, desde o financiamento climático até à justiça climática e à transição energética. Com as recentes eleições americanas a adicionarem uma nova camada de complexidade ao cenário, Alice explora as implicações para as negociações e para a unidade global nesta conferência crucial.
Qual a importância desta COP29 para o avanço das políticas de sustentabilidade globais?
Apesar do ceticismo quanto ao tempo em que já existem as COPs e as ações efetivas que enderecem os números alarmantes das alterações climáticas, a cada ano com a Conferência renova-se a esperança, os compromissos inter nações, a partilha da informação mais atual e científica sobre o tema. Além de ser oportunidade reiterada para que os países celebrem acordos internacionais sobre alcance das metas globais ligadas ao cenário das alterações climáticas. Mais do que conferência, uma COP também costuma ser berço de ações transnacionais que acabam por inspirar mudanças nacionais, e isto é sempre muito promissor.
Para essa COP29 especificamente são esperados, por exemplo: (i) o “novo objetivo coletivo quantificado” (NCQG), que corresponde ao montante atualizado do novo objetivo de financiamento do clima até 2025, (ii) os planos de ação nacionais dos países, atualizados no âmbito do Acordo de Paris, que deverão ser oficialmente entregues até fevereiro de 2025 mas deverão ser apresentados durante a COP29, (iii) regulamentação do artigo 6º do Acordo de Paris com maiores ferramentas para implementação ampla e efetiva dos mercados de carbono.
Quais são os principais temas e desafios em sustentabilidade que pretende acompanhar durante a COP29?
Penso que muitos são os temas e desafios, mas no tocante à jornada da transição energética, por exemplo, destaco: em que medida e como vai acontecer o chamado “phase down” informalmente adotado mas já apontado como necessário para travar o aquecimento global, e que consiste em uma redução substancial e imediata dos combustíveis fósseis, qual é a meta efetiva que devemos considerar para o metano, e como incorporar o desafio da eficiência energética com o mesmo timing e esforço que a produção de renováveis já tem, felizmente.
Um grande tema também é a questão da transição climática efetivamente justa, sem deixar ninguém para trás: ou seja, uma transição que também tenha as pessoas em consideração, principalmente os grupos minoritários e população de países ainda em desenvolvimento. Para isto, questões são cruciais como a atualização e operacionalização do fundo Loss and Damages (no qual os países desenvolvidos contribuem para a mitigação e adaptação climática dos países ainda em desenvolvimento).
Na sua opinião, de que forma os resultados recentes das eleições americanas podem influenciar as negociações e o clima geral da COP29?
A vitória do Trump representa a vitória, nos Estados Unidos da América, de um pensamento não comprometido com as alterações climáticas. Trata-se do triunfo de um discurso contrario a todo o esforço que se tem feito no sentido de travar as alterações climáticas, mitigar seus efeitos. Trump é um conhecido cético em relação ao clima, e sua eleição por exemplo, de imediato, representou quedas bruscas no valor das ações de empresas renováveis na bolsa norte americana.
Contudo, não obstante, tudo o que ele representa ter sido escolhido para os EUA, Trump não estará presente na COP29 e a equipa que representa o Presidente Biden irá insistir no progresso, mas com a pouca esperança de que os acordos pactuados em Baku não ganhem efetividade com a nova administração.
No entanto, há também uma outra forma de olhar para este retrocesso pontual: podemos estar diante de uma oportunidade dos demais líderes e nações se unirem em resposta colectiva do mundo a esta crise climática, justamente para reforçar ambições e ações que podem e devem ser continuadas mesmo sem o apoio dos EUA.