A Ria Formosa, uma das mais importantes lagoas costeiras do sul da Europa, estende-se por 55 km ao longo da costa algarvia. Este ecossistema singular destaca-se não só pela sua biodiversidade, mas também pelo seu papel crucial na captura e armazenamento de carbono, conhecido como “carbono azul”.
Os sapais e as pradarias marinhas da Ria Formosa são componentes essenciais neste processo. Estes habitats têm a capacidade de sequestrar dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera, armazenando-o nos sedimentos por longos períodos. Estudos indicam que, nos mais de 5 mil hectares destes ecossistemas na Ria, estão armazenadas quase 1,5 milhões de toneladas de carbono, com um acréscimo anual de cerca de 8 mil toneladas, equivalente às emissões anuais de 7 mil automóveis.
Contudo, nas últimas décadas, aproximadamente um terço dos ecossistemas de sapal e de ervas marinhas a nível global foi destruído devido a impactos antropogénicos, como o aumento de nutrientes e distúrbios físicos. Esta perda não só reduz a capacidade de sequestro de carbono, como também compromete a biodiversidade e os serviços ecossistémicos associados.
Ria Formosa: Um Reservatório Natural de Carbono Azul
Investigadores da Universidade do Algarve e do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) têm desenvolvido estudos inovadores para compreender melhor o potencial de armazenamento de carbono destes ecossistemas. Um exemplo curioso é a utilização de saquetas de chá enterradas em diferentes habitats da Ria Formosa para avaliar as taxas de decomposição e, consequentemente, o potencial de sequestro de carbono. Os resultados preliminares sugerem que as zonas húmidas de água doce e sapais apresentam maior potencial de armazenamento de carbono.
A preservação e restauração destes habitats são, portanto, essenciais para mitigar as alterações climáticas. A inclusão dos fluxos de CO₂ e outros gases de efeito estufa destes ecossistemas nos inventários nacionais, conforme estipulado pelo Acordo de Paris, é uma medida crucial para reconhecer e valorizar o papel dos sapais e pradarias marinhas na regulação climática.