Nos últimos anos, assistimos a uma transformação profunda na indústria da moda, à medida que a consciência sobre as questões éticas e de sustentabilidade ganharam destaque. O tradicional conceito de luxo, que por muito tempo esteve associado ao excesso e à opulência, está agora a redefinir-se. Hoje, o verdadeiro luxo é quando a moda e a ética se encontram, criando um equilíbrio entre um estilo único e a responsabilidade ambiental e social.
A ética na moda
Nos Estados Unidos da América 21 mil milhões de têxteis são descartados anualmente e no Reino Unido estima-se que cada agregado familiar deita fora 35 quilos de roupa por ano. Esta é uma pegada ambiental significativa e se a ela juntarmos práticas de trabalho muitas vezes questionáveis, estamos perante um sector nada positivo. Mas isto está a mudar.
Os consumidores estão cada vez mais conscientes e exigentes de transparência. Os consumidores querem menos e melhor. Os consumidores querem empresas que abraçam valores éticos, que utilizam materiais sustentáveis, com práticas de produção responsáveis e que garantem condições de trabalho justas.
Slow fashion
A cadência de novidade sempre sustentou o setor da moda, mas hoje, com os consumidores mais conscientes, o ciclo mudou.
O consumidor atual está a mudar a sua forma de comprar moda, investindo em escolhas mais conscientes, duradouras, intemporais, resistentes e de qualidade.
A acompanhar esta nova forma de olhar a moda, a Osklen investiu fortemente numa produção mais sustentável e está a redefinir as peças de roupa, criando modelos intemporais e resistentes, quer a partir de textéis orgânicos, quer a partir de materiais reciclados.
Inovação e criatividade
Numa tentativa de fugir aos materiais sintéticos e às técnicas de produção que prejudicam o planeta, as grandes marcas e designers estão a explorar materiais mais sustentáveis e orgânicos, tecidos reciclados ou de origem circular, tecidos que não precisam de tanta lavagem, e formas de tingimento mais naturais.
Um bom exemplo da utilização de novos tecidos provenientes de reciclagem é a INSANE IN THE RAIN. Esta marca produz divertidas parkas feitas de plástico reciclado de garrafas.
Circularidade
A circularidade emergiu como um pilar fundamental na nova era do luxo. Em contraste com o antigo paradigma de “usar e descartar”, a moda circular vem mostrar que a grande maioria das peças de roupa não têm um fim definitivo, mas sim um ciclo contínuo de uso, reutilização e reciclagem.
O luxo contemporâneo abraça a ideia de que as roupas e acessórios são projetados para durar, feitos de materiais de alta qualidade que resistem ao teste do tempo.
Além disto, a prática de partilha, aluguer e revenda de peças de grandes marcas está a ganhar terreno.
Plataformas como a Vinted, a Micolet ou Recloset são lojas virtuais onde se pode vender e comprar em segunda mão. Já na Bigcloset e na Rent The Runwaway, podemos alugar peças de roupa ou malas de luxo.
Upcycling
Com o upcycling, peças antigas ou descartadas são transformadas em novos itens de moda, revitalizando o valor estético, emocional e único.
As grandes marcas estão a resgatar materiais e tecidos não utilizados para criar coleções únicas e exclusivas, que contam histórias de renovação e renascimento.
O verdadeiro luxo reside na capacidade de transformar o comum em extraordinário, enquanto se reduz o desperdício e se promove um consumo mais consciente.
Neste sentido, sugerimos que conheça a Béhen, marca portuguesa que cria lindas e exuberantes peças a partir de cortinas antigas, naperons e todos os outros tecidos que se consegue encontrar no baú da avó.
Novas formas de tingimento
Segundo o Banco Mundial, o tingimento têxtil é um dos grandes poluidores de água no planeta, contribuindo com 17 a 20% de toda a poluição dos nossos recursos hídricos.
São mais de 6 triliões de litros de água utilizados anualmente. Grande parte destas águas contaminadas são libertadas sem um tratamento prévio.
Com diversos elementos químicos que resultam do processo de tingimento a afetarem a fauna e flora, o tingimento vegetal começou a ganhar terreno, mas também o bio tingimento feito com a ajuda de bactérias e fungos.
O sector da moda também tem recorrido a tecnologias de tingimento de baixo impacto, que são muito mais eficientes no consumo de água.
Novos e surpreendentes materiais
Sapatos de folha de ananás ou malas de escama de peixe, parecem uma ideia descabida, mas não! São os novos materiais a chegar à indústria da Moda para minimizar o impacto ambiental.
A Zouri é uma marca portuguesa de calçado que, para além de usar plástico capturado na nossa costa, ainda usa a eco pele feita a partir da fibra de folha de ananás.
Já a Osklen inova mais uma vez com a introdução da escama de Pirarucu, peixe autocone da zona amazónica. O material é recolhido junto da população local que vive da pesca. A utilização deste material impacta a economia local e previne o desmatamento.
Coleções mais pequenas
A Buzina é uma marca portuguesa que nasceu em 2016 e tem um conceito de sustentabilidade diferenciado: todas as peças são de tamanho único e amplas de forma a que possam ser usadas por qualquer pessoa e acompanhar, quem a compra, em qualquer fase da vida. Coleções pequenas, modelos únicos e produzidos com desperdícios são os pilares de sustentabilidade desta marca.
Trabalho justo
O luxo ético não se reflete só nas questões ambientais, mas também a responsabilidade social. O trabalho justo é um imperativo, assegurando que os trabalhadores em toda a cadeia de valor, recebem salários dignos e condições de trabalho seguras. As marcas de luxo, respondento às exigências de transparência dos consumidores, começam a garantir que sua produção está livre de exploração e injustiça, e comprometida com os valores humanos fundamentais.
A convergência de circularidade, do upcycling, dos novos materiais, das novas formas de tingimento e do trabalho justo definem agora o novo paradigma de luxo. É emocionante testemunhar esta transformação do compromisso entre as grandes marcas e um mundo melhor.