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Publicado a:
28/06/2021

Escrita:
Ricardo Atayde

A geração distribuída no mercado Português

Energyear Portugal organizou o evento “O futuro do mercado renovável Português” onde Sérgio Costa, Solar PV Sales Manager da Helexia Portugal, participou no debate “A geração distribuída no mercado Português”. Algumas das respostas do Sérgio podem ser vistas aqui.

 

No âmbito das mais recentes evoluções legislativas, assistimos à simplificação do regime de auto-consumo, criação do auto consumo colectivo e comunidades de energia renovável. Qual a vossa opinião sobre estes avanços?

A legislação para o autoconsumo individual teve um impacto claro para dinamizar e agilizar os projetos de UPACs . Do ponto de vista de autoconsumo coletivo e comunidades energéticas estão dados os 1º passos para estes projetos avançarem. O potencial é enorme, dou-vos um exemplo de 1 projeto de autoconsumo coletivo em que a Helexia está a participar. Trata-se de um complexo industrial onde fazem parte 9 empresas. Caso se instalassem 9 UPACs poder-se-ia instalar um máximo de 4 MWP.

Com autoconsumo coletivo existe um potencial para 8MWp e quando comparado o preço de energia às 9 instalações individuais, será possível reduzir o preço da tarifa em 5Eur/MWh.

 

Evolução do preço MWh do MIBEL em 2021, a vossa opinião sobre o mesmo e impacto na geração distribuída.

Acredito que os preços registados do MIBEL, mesmo se houvesse uma tendência de descida (que não se está a verificar), não causassem impacto negativo na geração distribuída.  Do ponto de vista económico, a produção e consumo de energia junto do consumidor (“prosumer”) será sempre vantajosa. A geração em grande escala, para o consumidor terá sempre associados os custo de disponibilidade de rede+ acesso às redes + custo geração (mesmos que baixos quando comparados a pequena escala  +  transporte disponibilidade  + fiabilidade.

Isto, sem valorizar, o impacto ecológico que eventualmente a grande escala poderá causar, (estou a referir-me aos Kms de linhas de transporte)

 

Com a vossa experiência no mercado, enquanto empresas que têm acompanhado o processo desde o inicio, há algum ponto que poderia ter corrido de outra forma? Algo que hoje já tenha sido ultrapassado ou falte ultrapassar?

De uma forma geral, pela experiência que temos do mercado Português com 35 projetos  PV, construídas sobre o modelo PPA (aproximadamente 21MWp) o saldo tem sido francamente positivo. Quando falamos de projeto <1MWp, atualmente é um processo simples e rápido para se iniciar a construção de uma central fotovoltaica em regime UPAC. No entanto, temos situações de empresas grandes consumidoras de energia e tipicamente multinacionais, cujo potencial PV é 3, 4 MWp por exemplo. Estes projetos poderão ter um processo de aprovação demorado.

 

Como antecipam a evolução do armazenamento de energia como parte da geração distribuída?

O armazenamento de energia terá certamente um papel muito importante na geração distribuída, especialmente conjugado de forma híbrida com PV, EVC. Posso desde já dizer, que estamos a participar num projeto piloto como uma Universidade na implementação desta solução num “Campus universitário”. Para além destes “assets”, estamos a incluir na solução um sistema de gestão da “micro-rede”, fundamental para dotar a infrastrutura com mais inteligência. O nosso objetivo é replicar este projeto nos principais sectores ondes estamos posicionados (Indústria, Retalho).

 

O enquadramento legal atual adequa-se às necessidades dos operadores de mercado? E dos clientes finais?

Existem vários comercializadores de energia em Portugal.

Os clientes finais na eventualidade de virem a ser também produtores de energia, deverão sempre salvaguardar-se deste cenário junto do seu comercializador de energia. Exemplo, uma empresa que se fidelize com um comercializador para a compra de 100% da sua necessidade energética, na prática terá  seu projeto de autoconsumo inviabilizado.

 

Podemos dizer que os consumidores estão mais informados e sensibilizados para o tema da geração distribuída? Como poderão ser envolvidos e leva-los a terem ownership destes projectos?

Falando em concreto dos grandes consumidores de energia, refiro-me à Indústria, os custos com energia elétrica representam uma fatia considerável dos custos de produção, nesse sentido,  notamos cada vez mais interesse e informação, principalmente na questão particular da instalação de solar fotovoltaico.

Por outro lado, começa a haver também uma preocupação no que diz respeito à toda a cadeia de fornecimento, onde a redução da pegada de carbono começa também a ser uma exigência.

A energia é cada vez mais um aspecto importante nas empresas, e se observarmos com muita atenção, em algumas Industrias começa a já existir a figura do Gestor de Energia.

 Como sabemos a Indústria em Portugal depende muito do mercado exportação (45% PIB), e de acordo com dados 2019, 77% das exportação são intra EU). Ou seja, se por uma lado temos uma posição geográfica desfavorável face  aos maiores mercados exportação, por outro lado temos fontes de energia renovável, como solar fotovoltaica.  

É aqui que a HELEXIA entra, e com o conhecido modelo PPA, assume a construção chave-na-mão de centrais fotovoltaicas, estando presente em toda a cadeia de valor do projeto, incluindo  todos os custos investimento, desenvolvimento, construção, engenharia, operação e manutenção da central.  

De acordo com um estudo de mercado que desenvolvemos  e com base  em projetos que temos em operação, podemos afirmar que as empresas em determinados sectores, sem qualquer investimento, no primeiro ano de funcionamento da central, podem reduzir os custos de energia elétrica na ordem dos 20%, e um aumento de EBIT %  (1-2%).

Sendo a redução de custos de energia elétrica, um dos principais drivers para concretizar estes projetos, existem também outros fatores determinantes  e não menos importantes para as várias empresas. Refiro-me por exemplo à remoção de coberturas de amianto/fibrocimento e substituição por novas coberturas apropriadas para instalação de painéis fotovoltaicos e que vão garantir melhor isolamento e conforto às pessoas. Esta situação é muito comum por exemplo na Industria Cerâmica, onde temos vários projetos executados e também se qualquer investimentos dos n/ clientes.

 

Quais são os grandes desafios?

Os desafios são constantes, na procura de novas soluções e modelos.  

Garantidamente haverá cada vez mais soluções híbridas, isto é,  PV,  armazenamento de energia, carregamento elétrico,  e portanto a  gestão das novas  micro-redes serão um desafio nos próximos tempos.

Estamos a preparar-nos para esta realidade, até porque somos também operadores de postos de carregamento de veículo elétricos (OPC).

Para além da Retalho e  Industria, investimos noutro sectores como a Hotelaria e Real State.

Se pensarmos que 40% da energia elétrica consumida no mundo é em Edifícios, seria absurdo não explorar estes sectores. A aposta aqui tem passado pela eficiência energética, e pelo novo conceito de Energy as a Service, onde neste caso existe uma combinação muito interessante de energia elétrica e energia térmica.

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