Sempre que se Reutiliza, Recupera, Recicla e Transforma.
O círculo é considerado a forma geométrica perfeita, não há início, meio ou fim, não tem direção, ou orientação, não há uma posição mais importante, é uma linha continua, ponderada, com igualdade, perfeição e renovação. Num mundo equilibrado também não há desperdícios ou resíduos, as matérias ganham nova vida, e a economia circular é uma realidade, um paradigma que representa a chave para tornar o nosso planeta mais equilibrado e sustentável. É uma abordagem que foca a reutilização, regeneração e reciclagem, alargando a vida útil de uma matéria, artigo, produto ou forma de energia.
Mas, o que é a economia circular?
A Economia Circular é um conceito estratégico que assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. Substituindo o conceito de fim-de-vida da economia linear, por novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação. Num processo integrado, a economia circular é vista como um elemento chave para promover a dissociação entre o crescimento económico e o aumento do consumo de recursos.
E como é que a circularidade poderá entrar no sector do retalho?
A transição para a circularidade em áreas da economia nacional, com impacto relevante em termos de consumo, como o caso do setor do retalho, deverá ser acelerado e considerado como um dos prioritários, aumentando assim a produtividade e reutilização eficiente de recursos. Deverão ser impulsionadas e ensinadas as melhores práticas existentes, tendo em vista a sensibilização de marcas e pessoas, com o objetivo de explorar as oportunidades oferecidas pela economia circular dentro deste setor.
As boas práticas de economia circular no retalho visam, assim, gerar menor desperdício, maior valor e consumo mais informado, onde se incluem um conjunto de iniciativas focadas em torno de diversos eixos de ação, uma vez que o setor do retalho contribui ativamente para a economia nacional e é mais um motor fundamental para a promoção da economia circular.
Os factos que nos obrigam a unir e agir
Segundo o Guia de Boas Práticas, para Empresas + Circulares, desenvolvido pela CIP, as ameaças ecológicas e a tendência crescente do preço das matérias-primas, as crises sociais, as guerras, etc., implicam o repensar dos vínculos entre o uso de recursos e a prosperidade económica – segundo dados do Fundo Monetário Internacional, a partir do ano 2000 começámos a verificar uma nova tendência de crescimento dos preços das Matérias Primas em consequência do consumo excessivo dos recursos finitos do planeta. Em 2021, assistimos ao esgotamento dos recursos naturais do planeta, a data foi marcada como: “O dia da Sobrecarga da Terra”. Nesse momento começámos todos a viver em défice ecológico. Globalmente a humanidade consome mais 74% de recursos naturais do que o planeta consegue regenerar, ou seja, o equivalente a “1,7 planetas Terra”. Portugal tem pegada ecológica de 2,75 planetas.
De acordo com o Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC) no período 2017-2020, a economia global funcionava à razão de 65 mil milhões de toneladas de materiais extraídos ao ano. Prevê-se que em 2050 esse valor seja superior ao dobro, com cada habitante, em média, a usar mais 70% de materiais do que os necessários em 2005, traduzindo-se no aumento prejudicial do consumo, de emissões de gases com efeito de estufa e de resíduos.
Segundo dados da ONU e do Banco Mundial, estima-se que em 2050 existirão 9 bilhões de pessoas na Terra, que serão responsáveis pela geração de cerca de 4 bilhões de toneladas de lixo urbano todo o ano, um aumento de 2 milhões face a 2016. A este ritmo, espera-se que a procura vá exceder a disponibilidade de recursos, traduzindo-se num forte desequilíbrio entre as necessidades da sociedade e o que a Terra terá para oferecer, pois precisaríamos de 2,3 planetas para satisfazer o nosso estilo de vida consumista.
Que práticas poderemos implementar já?
Perante este cenário e voltando à realidade do retalho, há um conjunto de boas práticas a implementar no imediato, que demonstram os novos caminhos do setor em matéria de sustentabilidade e que permitem a criação de valor, como: a Reciclagem, a Reutilização, a Gestão Ambiental, a Prevenção do Desperdício Alimentar, a Promoção do Consumo Sustentável, a Circularidade da Energia, a Valorização de “Monos” com reintrodução na Cadeia de Valor, Circularidade do Packaging e introdução Produtos Certificados em Segunda Mão na oferta retalhista. Passando da teoria à prática existem muitos objetos do dia-a-dia que podem ser reaproveitados, certificados e colocados num novo ciclo na estrutura de vendas, por exemplo: Roupa, Eletrodomésticos, Mobiliário, Embalagens e Plásticos, entre muitos outros. No caso da roupa e do mobiliário, felizmente já existem dezenas de marcas e grandes organizações a transformar, recuperar e a vender novamente, com qualidade e garantia. São novos ciclos de vida, com preços mais competitivos e novo design.
O desperdício alimentar no retalho e na sociedade
O desperdício alimentar é uma preocupação muito real e séria no sector do retalho e para a sociedade no geral, hoje vivemos num contexto onde há mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo em estado de subnutrição, segundo dados da Food and Agriculture Organization (FAO) das Nações Unidas.
Este é um problema que se coloca não só ao nível do consumo, mas a todas as fases do ciclo de vida dos alimentos, desde a colheita, à produção, distribuição, até às nossas casas. Por dia, todos os dias, em todo o mundo são rejeitadas enormes quantidade de alimentos, que só na sua produção já tiveram profundos impactes ambientais, económicos e sociais. Para cada alimento que vai para o lixo, estamos também a deitar fora um conjunto imenso de recursos naturais, humanos, financeiros e energéticos, que acabaram por não ter qualquer utilidade.
Hoje é da responsabilidade de todos combater o desperdício alimentar, entre consumidores e retalhistas, temos de unir esforços, estar conscientes do problema e procurar mudar hábitos e rotinas de forma a contribuir para fazer a diferença na luta a favor da preservação do ambiente.
Em 2012, segundo o Projeto de Estudo e Reflexão sobre o Desperdício Alimentar (PERDA), foi estimado que em Portugal, anualmente, eram desperdiçados perto de um milhão de toneladas de alimentos. Isto significa que cada habitante desperdiçava, em média, 97 quilos de comida por ano.
Felizmente a luta contra este desaproveitamento está a traçar o seu caminho e existem um conjunto de aplicações para smartphone (como a To Good to Go e Phenix) e projetos de ação (como a Unidos contra o Desperdício, Good After, Refood, Zero Desperdício, Dose Certa, Fruta Feia, entre muitos outros) que em Portugal começam a fazer a diferença e a ajudar a que os consumidores criem novos hábitos de consumo e ajudam o setor do retalho a encaminhar os desperdícios para uma nova cadeia de valor.
O copo meio cheio e a esperança no futuro
Por fim, entre consumidores e organizações retalhistas, todos podemos contribuir para uma economia circular e para uma realidade de desperdício cada vez mais perto do zero. Há muito a fazer na instrução da sociedade e de todos os agentes económicos. Se houver maior preocupação, educação, transição, sensibilidade e iniciativa, o retalho em Portugal poderá mais rapidamente dar o salto para um contexto onde os mais variados tipos de comércio irão buscar, de forma mais ativa, soluções para um posicionamento sustentável, com benefícios claros para a sociedade e, acima de tudo, para o planeta.