Opinião

Publicado a:
28/06/2024

Escrita:
Catarina Padrão

A sustentabilidade está na cabeça de quem viaja?

Não é possível identificar com clareza se entre a conveniência e a sustentabilidade, o que prevalece é esta última.

A abordagem a esta questão envolve múltiplos fatores, o que torna difícil alcançar uma conclusão clara e definitiva. O senso comum aponta para que o impacto desta variável no mindset de quem viaja dependa de fatores tão dispares como a geografia de origem do viajante, o seu perfil etário, o seu perfil financeiro e também da sua formação académica. Mas esse mindset também incorpora outros fatores de decisão, como a circunstância da viagem (família, amigos, casal, individual), as motivações da mesma (familiares, trabalho, lazer, religião, cultura, desporto, natureza) e condicionantes associadas (tempo, financeiras e logísticas).

Não sendo possível essa associação com clareza, resta-nos observar a realidade atual para perceber que  há, de facto, uma percentagem reduzida, mas eventualmente crescente, que incorpora conscientemente e deliberadamente no seu mindset as questões de sustentabilidade, indo além da sustentabilidade ambiental e integrando também a sustentabilidade social e económica dos destinos.

Mas ainda não é possível identificar com clareza se, presente o conflito entre a conveniência e a sustentabilidade, o que prevalece nas escolhas de quem viaja é esta última.


O que é dito pelos diversos operadores do Ecossistema do Turismo, fora do quadro de um inquérito, é que o viajante em geral confrontado com o dilema entre a conveniência e a sustentabilidade, só em último caso prioriza em absoluto a segunda em relação à primeira.


Num contexto em que viajar é uma preferência dominante para o cidadão do mundo no século XXI, qualquer pessoa com capacidade financeira para o fazer terá naturalmente essa vontade, e poucas coisas poderão convencê-la a abdicar dessa intenção.

Perante isto, o transporte aéreo torna-se indispensável a partir de determinadas distâncias, já para não referir as ilhas e as viagens intercontinentais em que, razões de continuidade geográfica e tempo, confirmam esse estatuto.

Ultrapassada esta inevitabilidade e reconhecida a vantagem no plano da sustentabilidade de algumas das alternativas quando viáveis (custo, tempo, acesso) passemos ao destino, onde essa preocupação pode ser endereçada no plano ambiental, social e económico.


Poderemos assumir que, a prazo, um destino que não tenha na sua matriz a sustentabilidade ambiental, social e económica não conseguirá proporcionar a quem viaja uma experiência de excelência ao longo da qual o viajante num ambiente tranquilo, saudável e com qualidade possa interagir com o mesmo de modo a poder satisfazer as expetativas que o levaram á sua escolha.


Quem quererá visitar um país onde os residentes não têm qualidade de vida, onde os recursos naturais são afetados, onde não há segurança, onde a mobilidade está condicionada e limitada a alternativas que prejudicam a qualidade de vida e o ambiente, onde o património natural, ambiental, histórico e cultural não seja protegido e valorizado, onde a população não tem um nível de vida digno e as condições de trabalho são diminutas?

Neste contexto, assume especial importância a prioridade de uma governação sustentável de um país e /ou de um território seja uma cidade, uma comunidade, uma reserva natural ou património histórico. É fundamental priorizar a qualidade de vida dos residentes e comunidades em respeito pelo ambiente numa relação de equilíbrio que irá reforçar a atratividade e a valorização do destino, assegurando a sua sustentabilidade no futuro.

Conscientes que o viajante tem sempre uma pegada no destino que visita, importa que essa governação crie as condições para que o impacto económico que o viajante tem no destino se traduza em melhores condições de vida para os residentes, através de mecanismos simples, transparentes e certificados que permitam compensar essa pegada, particularmente no plano ambiental.


O turismo veio certamente alterar a realidade dos territórios, no entanto, a governação tem tardado a adaptar-se a esta nova realidade, mantendo abordagens e respostas que, à luz da nova situação, se revelam obsoletas.


O turismo é, em si mesmo, um fator de sustentabilidade. Além de promover a relação entre os povos e, consequentemente, a paz, cria riqueza nos destinos, reabilita e sustenta o património histórico, cultural e ambiental, desde que seja bem gerido.

Turismo + boa governança do turismo nos destinos = fator de sustentabilidade económica, social e ambiental.


Artigo escrito por Rui Gidro, Partner Deloitte, para o Case Study “Descarbonizar o Turismo“. Este case Study faz parte da iniciativa de Think Tank “Inovação energética e a competitividade setorial” realizada em parceria com a Helexia, Deloitte, PMLJ e jornal ECO.

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